Luciana Oncken
Fiz uma enqueteno LinkedIn, esses dias, perguntando se as pessoas ouviam ou já tinham ouvido podcasts de ficção e se gostavam ou não do formato. A maior parte, 43%, respondeu que sim, que ouve podcast narrativo ficcional e 33% nunca ouviram. Ainda 14% responderam que já ouviram e adoram e 10% ouviram e não gostam. Ou seja, da minha pequena amostra de 21 respondentes, 67% já ouviram um podcast narrativo de ficção,
Exemplos de produções de sucesso no Brasil e no mundo
Os podcasts de ficção estão ganhando cada vez mais destaque na cena do entretenimento. Com narrativas imersivas e roteiros bem construídos, esses programas de áudio têm conquistado fãs em todo o mundo. Algumas produções audiovisuais provenientes da América Latina e dos Estados Unidos estão ganhando espaço em outras partes do mundo, e isso inclui versões em diferentes línguas. Um exemplo recente é o podcast chileno Caso 63, criado por Julio Rojas, que tem ganhado versões em outras línguas, como o inglês, português e até mesmo em hindi, tornando-se um verdadeiro fenômeno mundial.
A série de áudio acompanha a história de um paciente (Caso 63) que alega ser um viajante no tempo, e de uma médica psiquiatra que o atende. A versão em língua inglesa conta com a interpretação da renomada atriz Julianne Moore no papel da médica, enquanto o personagem principal é interpretado por Oscar Isaac. Já na versão brasileira, intitulada Paciente 63, os papéis foram desempenhados por Mel Lisboa e Seu Jorge.
No Brasil, a audiosérie Sofia, lançada em 2020, foi a primeira investida do Spotify em podcasts de ficção. A série foi baseada em Sandra, uma série original Gimlet, empresa comprada pelo Spotify em 2019. Adaptada também em outras línguas, com título específico para cada país, pelas bandas de cá, tem atores de peso no elenco, como Mônica Iozzi e Otaviano Costa. Sofia é o nome da assistente virtual fabricada na empresa em que a protagonista começa a trabalhar como uma das operadoras em busca de respostas para os usuários da IA. Na verdade, Sofia simula uma Inteligência Artificial. O podcast fez sucesso no meio dos ouvintes cativos de podcast.
Outra audiosérie muito bem produzida é País do Futuro 2024, produção conjunta da Bife Seco e Ric Podcasts, escrita e produzida por Dimis, com destaque para a trilha sonora original do vencedor do Emmy Internacional, Gilson Fukushima. A audiosérie usa recursos explorados pelo universo da ficção científica. No podcast, o detetive S1lv4 investiga o sequestro de uma influenciadora digital tendo como cenário um país distópico deteriorado pela crise e pelo fundamentalismo religioso. Diferente da maioria dos podcasts ficcionais, País do Futuro 2024 apresenta episódios longos de 55 minutos aproximadamente.
Desafios e oportunidades para a conquista de novos ouvintes
São ainda poucas as superproduções em podcasts ficcionais no Brasil. E ainda é um público a ser conquistado. Com custos de produção reduzidos em relação a uma obra audiovisual, tem um campo promissor para produtores culturais.
Os podcasts narrativos documentais, que já possuem uma audiência cativa, podem servir como um trampolim para a conquista de novos ouvintes também na ficção. Obras como Projeto Humanos, Praia dos Ossos, Caso Evandro, A Mulher da Casa Abandonada e o recente O Atelier conquistam cada dia mais ouvintes e promovem discussões e debates nas redes sociais.
Podcasts, afinal, trazem a facilidade de acesso e conveniência. E os de ficção trazem novas formas, para além das tradicionais, de contar histórias. Ao contrário de filmes ou séries, os ouvintes podem mergulhar em uma história em qualquer lugar e a qualquer hora, sem precisar estar na frente de uma tela. Além disso, muitos desses programas são gratuitos e podem ser baixados facilmente em plataformas como o Spotify ou o Apple Podcasts.
Aposta na qualidade narrativa
Podcasts de ficção exigem qualidade do conteúdo, da narrativa, da construção do roteiro, e da construção do desenho sonoro. Investir em roteiros bem construídos, personagens bem desenvolvidos e produções cuidadosas garantem uma experiência imersiva e envolvente para o ouvinte.
Se você ainda não se aventurou no mundo dos podcasts de ficção, eu sugiro que você experimente, sempre com fones de ouvido para que consiga mergulhar no universo da história. E não desista no primeiro estranhamento, é questão de treino mesmo. Feche os olhos, construa a cena, e envolva-se. A riqueza do podcast de ficção está nessa construção conjunta entre quem conta a história e quem ouve. Se você já é um fã desse formato, compartilhe suas recomendações nos comentários!
PS. em breve, vou escrever um texto do ponto de vista de quem coproduziu um podcast de ficção.
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